quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

DUVIDAS E MEIAS RESPOSTAS


Quando terminou de comer, She recolheu o prato e, novamente, mandou-a dormir. Não trocaram mais palavras e Dafne seguiu obediente até o quarto.
Chegando, fechou a porta e foi para cama, onde aproveitou pra fechar a janela. Deitou. A cama era incrivelmente macia, não tanto quanto os pelos de Kaled, mas era quente. Embrenhou-se entre as cobertas e ficou a lembrar das coisas do dia, antes do que imaginava, dormiu.
Um menino a olhava. Devia ter uns dois anos a mais que ela. Ele tinha o cabelo claro, um loiro quase branco, seus olhos eram de um azul penetrante, o menino poderia ser extremamente belo se não fosse pela cara de dor.
Seu rosto lindo estava contorcido em dor, os olhos azuis, tão belos, estavam arregalados em desespero. Sua boca falava algo que ela não podia ouvir. Ele estava desesperado e com muito medo. De repente, ele começou a correr até ela, corria de modo frenético, e nunca chegava.
Dafne notou que quanto mais ele corria, mas a distancia entre eles aumentava. O medo e o desespero passaram a tomar conta dela também. Tinha que saber o causava tanta dor ao menino, tinha que ajudá-lo. Correu. Correu até ele desesperada também, sabia que sua face agora também era de dor.
Acordou.
Estava suando muito e por um momento não reconheceu o quarto em que estava. Demorou um pouco, mas logo as lembranças do dia voltaram. Reparou que já estava escuro. Quanto tempo ficou dormindo? As lembranças do sonho tomaram sua mente. Lagrimas rolaram silenciosas por sua face, junto com o suor.
Permitiu-se chorar mais um pouco e logo caiu no sono de novo, mas agora não teve sonhos.
Acordou com o sol irritando seus olhos. O quarto estava bem iluminado e a janela bem aberta acima de sua cabeça. Mas mesmo com o sol brilhando o frio era avassalador. Enrolou-se mais nas cobertas e chamou por Kaled. Mal sussurrou o nome e a cabeça enorme dele ocupou toda a janela.
Sorriu consigo mesma e se levantou na cama para vê-lo melhor. Teve que ficar em pé para conseguir ver os olhos dele, olhos vermelhos sangue. Olhos que de inicio a assustaram, mas agora estava muito feliz por vê-los. Esticou a mão para tocar o pelo branco entre os olhos dele, mas ele se afastou.
– She acorda cedo sempre, no entanto consegui convencê-lo a te deixar dormir por mais tempo. – Kaled comentou com voz calma – mas não vai ser sempre assim. Tem que se acostumar a acordar tão cedo quanto ele. Ele que vai cuidar de ti e responder tuas perguntas. Vai explicar o porquê tu estás aqui e vai treiná-la.
– Treinar-me? – Dafne perguntou confusa.
Kaled sorriu. Os dentes tão brancos quanto seu pelo e por um breve momento ele abriu um pouco a boca, mostrando por dentro pura escuridão.
– Sim, mas isso também cabe a ele explicar. – continuou ele – eu vim por outro motivo... – seus grandes olhos vermelhos se focaram nela, e ela teve certeza de ver dor neles. – Vou ter que partir mais cedo do que imaginei. Só vou ficar contigo por hoje, menina.
– Não! Tinha dito que ficaria comigo por uns dias! Não me deixe sozinha com ele, por favor... – Dafne não gostou nem um pouco da idéia. Tudo já era estranho demais, sem ele ficaria ainda mais difícil. Kaled já era seu porto seguro no meio de toda loucura.
Sentiu um aroma muito bom invadir o quarto. E o estomago dela começou a resmungar. Esticou a mão mais uma vez para tocar Kaled e dessa vez ele não se afastou. Dafne deixou sua mãe afundar naquele pelo macio e frio.
Kaled era monstruoso. Ser todo branco e só os olhos vermelhos era assustador, mas mesmo assim, Dafne não queria ficar longe dele. Suportaria o frio! Qualquer coisa, desde que ficasse com ele. Os olhos de Kaled se fecharam ao seu toque, ele gostava. Permitiu-se fazer um carinho na criatura, agora só tinha uma leve noção de onde deveriam estar seus olhos. Deixou a mão vagar em um movimento de cima pra baixo. Tocou o focinho dele, era molhado, e tão branco como o resto de seu corpo. Acariciou ali de leve. Ficou assim por uns segundos, até que ele se afastou sacudindo a cabeça.
– Vá comer alguma coisa. Depois vamos discutir minha partida. – ele falou enquanto se afastava da janela. – She está te esperando. Vá de uma vez. – dizendo isto saltou para fora do campo de visão dela.
Dafne suspirou impotente, mesmo que quisesse que Kaled ficasse, o que poderia fazer? Ele era estranho pra ela, e uma criatura poderosa, sem duvida, ela nada poderia fazer pra mudar o caminho que ele quiser seguir.
Saiu do quarto em silencio, não queria chorar na frente de She e também não queria mais chorar de modo algum.
Parou no meio do corredor que levava á cozinha, ele era tão simples quanto a casa. No fim tinha a porta que levava a cozinha, mas ao longo de sua extensão tinha mais três portas, duas ao lado direito de Dafne e uma do lado esquerdo. As duas do lado direito eram iguais as do seu quarto, mas a do lado esquerdo era totalmente diferente.
Enquanto as outras eram lisas e simples, essa era toda ordenada com figuras fantásticas. As figuras representavam homens, aparentemente em guerra contra criaturas estranhas. Só havia uma criatura que aparentava estar do lado dos homens, e essa criatura lembrava muito Kaled.
Em toda a extensão da porta a guerra estava representada. Do lado direito as criaturas. Do lado esquerdo os soldados do reino e na frente dos soldados estava Kaled. Imponente e majestoso! Ficava entre os dois exércitos como se só ele fosse o bastante para impedir o exercito inimigo. As imagens tinham a cor da porta, um marrom gasto e sujo, mas isso não as estragava em nada.
Mas uma coisa era obvia, a porta era antiga. Quantos anos tinha Kaled? Ele realmente esteve em uma guerra? Dafne estremeceu ao imaginar Kaled entre esses dois exércitos, mesmo sabendo que ele era forte... Examinou o exercito que Kaled encarava. Criaturas horrendas tão monstruosas e impotentes quanto o próprio Kaled, mas com certeza eram mais feias e um pouco menores, Kaled conseguiria lutar com alguns facilmente, mas com todos eles...
Dafne tocou a imagem de Kaled, acariciando-a de leve e prestou atenção nos detalhes da imagem. Não era Kaled. A imagem da porta era, vendo bem de perto, mais velha que Kaled. A criatura da imagem, embora muito parecida, não era Kaled.
– Protetores de Selfor... – Dafne deu um salto de susto e se virou para ver quem falara. Era She. – aparecem em tempos de guerra, ou alguns anos antes. Os protetores nasceram com o reino. E mudam junto com ele. Com uma nova guerra um novo protetor aparece.
– Kaled... – Dafne estava mais confusa do que nunca. – Uma guerra? – ficou encarando She até ele resolver responder.
– Sim, Kaled anuncia uma nova guerra. Ele é o novo protetor de Selfor. – She explicou, sua face era muito séria. – Os protetores nunca revelam muito sobre si, mas Kaled é incrivelmente jovem, deve ser o mais jovem desde o acordo de Daus.
– Quem é Daus? – Dafne interrompeu.
– Daus foi o sétimo rei de Selfor, ele que fechou o acordo com os Protetores...
– Mas eles sempre foram chamados de “Protetores”? – Dafne interrompeu de novo. – isso pareceu irritar She.
– Vá comer, menina. Respondo tuas perguntas mais tarde. – She reponde ríspido seguindo para fora.
– Mas eu quero saber. Quero saber porquê estou aqui. Se Kaled é tão novo... O que vai ser dele em uma guerra, se...?
– Acho que deverias ter mais confiança nas capacidades de Kaled... Mais até do que ele mesmo tem... – She a interrompe. – Agora vá comer e nos encontre lá fora depois. – ordenou ele ao se afastar. – e não se esqueça, tem que lavar a louça. – com um ultimo sorriso pra ela, ele saiu.
Quando She saiu de vista, Dafne olhou mais uma vez as imagens da porta. O protetor da imagem era realmente mais velho que Kaled, devia ser mais forte também. Não conseguia parar de pensar em como Kaled ficaria em uma guerra, entre os exércitos, como naquela figura...
Sacudiu a cabeça para afastar a imagem. Foi para cozinha onde encontrou um prato sobre a mesa. Era a mesma sopa da noite anterior. Comeu o mais rápido que pode, lavou a louça e correu para fora.
She estava sentado em uma cadeira de balanço na varanda. O movimento suave da cadeira misturado com o pequeno rangido que ela causava quando se inclinava para frente dava um clima estranho no ar, ou talvez fosse só a ansiedade de Dafne que a fizesse pensar assim.
Parada na soleira da porta, Dafne ficou observando She. Ele permanecia de olhos fechados se deixando levar pelo movimento da cadeira. As rugas que se formavam na testa e nos olhos dele lhe davam uma aparência de fraqueza. Fraqueza essa que sumiu assim que ele abriu os olhos.
Seus olhos castanhos escuros se fixaram nela. Neles ela pode ver raiva, raiva por algo que ela não entendia. Dafne teve que desviar os olhos deles e encontrou os de Kaled.
A criatura branca estava sentada na grama á uns vinte metros dela. A distancia não diminuía em nada a intensidade do olhar dele. Mas mesmo intenso o olhar era indecifrável, Dafne não saberia dizer o que se passava na mente dele naquele momento.
Kaled desviou os olhos dela quando falou:
– Uma guerra está se formando em Selfor. O rei sofreu uma grande perde e já aponta o culpado. Não que ele não esteja certo...  – ele havia desviado os olhos dela, mas ela sabia que se os visse encontraria raiva nele também. – Angus é o atual rei de Selfor, ele tem três filhos – a dor na voz de Kaled era evidente. Dafne não teve coragem de interromper. Reiden é o mais novo, tem apenas três anos. Anne é a do meio, tem sete anos... – Kaled parou de falar por um tempo, depois continuou – Donavan é o primogênito. Estava com onze anos quando desapareceu.
– Desapareceu? – Dafne conseguiu falar olhando fixamente para Kaled.
– Sim – Dafne se virou para She, que tomou a palavra. – Donavan desapareceu e sobre formas muito estranhas, posso te afirmar. – She estava novamente de olhos fechados. Suas palavras eram pouco mais que um sussurro, e Dafne teve dificuldades de captar tudo. – Faz quase seis meses que Donavan sumiu, tempo suficiente para Angus clamar por guerra.
– Contra quem? – o estomago de Dafne borbulhava de ansiedade, algo naquela história deveria ter a ver com ela, e era esse ponto que ela queria chegar.
– Grembar é o principal inimigo de Selfor – a voz de She se elevou – mas o porquê de toda a inimizade você vai saber depois. O caso é que Angus tem certeza de ser Grembar quem sequestrou Donavan.
– E como ele conseguiu isso? – Dafne tinha milhares de perguntas em mente, mas não sabia quais fazer e como fazer a maioria.
– Ninguém sabe. Donavan foi dormir e não o acharam no dia seguinte...
– E como o rei culpou esse tal de Grembar? – Dafne interrompeu de novo.
– Grembar se acusou – She não pareceu se importar com as interrupções – dois dias depois do desaparecimento de Donavan, Grembar afirmou estar com ele. – todos ficaram em silencio por um tempo. Estava muito frio na varanda o que fez Dafne se virar para Kaled. Ele estava muito perto dessa vez, sentado sobre as patas traseiras na entrada da varanda. Ela tomou coragem e se sentou ao lado dele na grama. – Porem não fez ameaça alguma. O rei já perguntou o que Grembar quer, mas esse nada declara. Não deu mais sinal de vida.
– Seis meses e nada? – Dafne estava confusa. Sentiu Kaled estremecer ao seu lado.
– Não, não nada. – She continuou – Donavan desapareceu; dois dias depois Grembar afirma ser o responsável pelo sequestro; no quinto dia Kaled destrói minha horta... – She abriu os olhos para encarar Kaled. A raiva daquele olhar fez Dafne se aproximar ainda mais de Kaled, como se isso pudesse protegê-lo de alguma forma. – Ele ficou rondando minha casa por alguns dias, depois sumiu. E agora voltou contigo! – o tom de voz de She era de ironia. Ele realmente parecia estar muito brabo.
– E por que eu? – finalmente tinham chegado à parte que Dafne mais queria ouvir, mas assim que perguntou Kaled se afastou dela rudemente.
– Para ficar aqui comigo – respondeu She. – Kaled pareceu que descobriu muitas coisas desde o dia que foi embora e ele pareceu gostar do fato de te trazer pra cá.
– Mas por quê? – a mente de Dafne borbulhava tentando entender.
– Porque comigo é mais seguro. Digamos que eu sou uma pessoa que não gosta muito de confusão e...
– E eu achei que aqui era mais seguro pra ti – Kaled falava olhando pra She, mas se dirigindo a ela. – De inicio todos acharam que Grembar pediria algo em troca do garoto, mas ele não se pronunciou mais. – Kaled demonstrava gostar da história tanto quanto She. – Eu vaguei de norte a sul buscando saber o que estava acontecendo, buscando alguma informação do que Grembar planeja.
– Mas só me trouxe aqui por segurança? – Dafne podia estar confusa, mas notou que Kaled tentava mudar de assunto. Kaled se encolheu.
– Tem coisas entre os protetores, Dafne... Que não escolhemos... – Kaled agora olhava para ela. – coisas que não podemos mudar – seus grandes olhos vermelhos ardiam com uma emoção que ela não entendia. – uma dessas coisas me levou até você. Uma dessas coisas exige que eu a proteja.
– Tudo bem. – dói tudo que ela conseguiu falar. O sentimento nos olhos de Kaled queimava dentro dela também.
– She mora incrivelmente afastado de tudo. A primeira vez que vim pra cá não esperava encontrá-lo. Ele conseguiu montar moradia a noroeste de Selfor. – Kaled olhava pra ela vendo se tinha conseguido entender, mas para Dafne aquilo não quis dizer nada.
She soltou uma gargalhada, antes de comentar.
– Essa garota não sabe nada, não é? – ele ainda ria Dafne sentiu o rosto queimar. Kaled tinha se virado para She e um rosnado se formava em seu peito. – Diga-me, menina, – continuou She ignorando o rosnado de Kaled – tu já ouviste falar em Dasdev?
– Sim. – sim, Dafne já tinha ouvido falar em Dasdev. Em algumas das poucas vezes que sua mãe deixava ela e os irmãos irem para a cidade, ela ouvia história de Dasdev.
Pelo que se lembrava Dasdev era uma floresta que todos temiam, também lembrava que ficava bem longe de sua cidade.
– Claro que Dasdev tu deves conhecer. – She recomeçou a falar – esse povo adora contos de aventura ou que se tenha algo a temer. Dasdev nada mais é do que uma floresta bem densa. Guarda seus segredos, claro. Mas é apenas uma floreta.
– Dasdev é uma floresta incrivelmente densa. E guarda bem mais do que simples segredos, mas... – Kaled havia voltado a falar – mesmo com todos os perigos... Aqui é o lugar mais seguro pra ti, Dafne.
– Estamos perto de Dasdev? – Dafne sentiu a voz falhar.
– Está vendo essa mata que rodeia minha casa? – She perguntou entre uma gargalhada. – eu moro em Dasdev! Quer dizer, moro nos limites de Dasdev.
– Ele mora no lado oeste de Dasdev. Um lugar não conhecido pelo reino.
– Por puro medo! – She ainda debochava – esse povo é medrosa até seuas entranhas!
Um rugido escapou de Kaled. Dafne não estava gostando nada daquilo. Pela primeira vez desde que encontrou Kaled, ela desejou estar em casa. Desejou estar com a mãe e com os irmãos. Se lá não era seguro pra ela, o que garante que é seguro pra eles? Por que ela tinha que ter esse privilégio de estar segura e elas não?
– Quero ir pra casa – Dafne falou.
Kaled virou-se para ela em um salto.
– O que?
– Quero ir pra casa. – ela repetiu.
– Não, você não quer ir pra casa – havia desespero na voz de Kaled.
– Por que não, se lá não é seguro? – Dafne contrapôs.
– Justamente porque lá não é seguro que você vai ficar aqui! – A voz de Kaled era um trovão na pequena varanda.
– Mas se lá não é seguro pra mim também não deve ser seguro pra minha mãe e pros meus irmãos! – ela tentava se defender.
– Rá! Tenho certeza de que sua mãe está bem segura onde quer que esteja. – quem falou isso foi She, mas as palavras foram fortes o suficiente para chamar a atenção de Dafne e Kaled.
– O que quer dizer com isso? – perguntou Dafne.
– Quero dizer...
– Nada! – Kaled foi mais rápido que ele. – Não quer dizer nada! – virou-se para Dafne – Tens razão. Talvez aqui não seja o lugar mais seguro pra ti.
– O que você quis dizer sobre minha mãe? – perguntou Dafne ignorando os urros de Kaled.
– Sua mãe é Íris, não? – She também ignorou Kaled, que urrou ainda mais alto.
– Sim, esse é o nome da minha mãe, mas o que quer dizer? O que sabe dela? – tudo podia ser novo, mas Dafne sabia que o perigo estava crescendo “Tudo começou há seis meses...”.
– Digamos que tua mãe tem seu nome marcado na história de Selfor. – havia um brilho perigoso nos olhos de She, como um berro para ela não acreditar em nada que ele falasse. Mas suas palavras eram estranhamente sedutoras para os ouvidos de Dafne. – Há mais segredos entre os protetores do que podemos entender... E alguns deles podem ser...
Dafne não ouviu mais nada, só sentiu um peso enorme a esmagando, não enxergou mais nada além dos pelos macios que grudavam em seu rosto, abafando qualquer som exterior. Sentiu o peito de Kaled tremer de forma violente, e agradeceu não poder ouvir aquele rugido.
Ficou por longos segundos sob o peso de Kaled sentindo seu corpo congelar com o frio.
Assim que Kaled saiu de cima dela. Dafne procurou com os olhos por She. Não havia sinal dele na varanda.
Kaled a observava sem nada falar. Dafne não sabia o que pensar. Kaled não poderia ter feito nada a She enquanto estivesse encima dela, ou...
– Ele foi para dentro. – Kaled atrapalhou seus pensamentos – Quero conversar contigo a sós.
– Vai me explicar o que ele quis dizer sobre minha mãe? – Dafne perguntou bufando.
– Vou tentar – prometei Kaled se deitando ao lado dela.
Dafne já conhecia aquela linguagem corporal e montou nas costas dele. Ele não perdeu tempo, assim que ela sentou, ele levantou e seguiu em direção a floresta “Dasdev...”, Dafne se prendeu com mais força contra o corpo dele.
– Não quero ir pra lá – Dafne comentou com voz falha.
– Quero te explicar algumas coisas, – Kaled retrucou – e dentro de Dasdev. Tem lugares mais apropriados que aqui.
– Mas...
– Não vou deixar nada acontecer contigo, Dafne. – Kaled não olhava pra ela, contudo ela sabia que ele não estava mentindo.
De inicio Kaled não correu, mas quanto mais entravam na mata, mais rápido ele andava, até que Dafne não conseguia definir a paisagem em que passavam. Estavam correndo. Os borrões que Dafne conseguia captar ajudavam a imaginação dela se precipitar a criar imagens terríveis que lembravam e muito os contos de terror contados em sua cidade.
Quando Kaled finalmente parou, Dafne contemplou uma pequena cascata d’água e um laguinho. O ambiente era muito lindo e desviou a atenção de Dafne quanto a todos os acontecimentos do dia.
Kaled deitou a alguns metros do lago e ela saltou para o chão. Dafne foi até a beira do lago e ficou observando os pequenos peixes vermelhos que nele viviam.
Um cardume desses peixes nadava bem à frente de Dafne. Suas escamas cintilavam por todo o lago dando uma luz especial no lugar. O reflexo de Kaled apareceu sobre a água e os peixes se dispersaram para longe.
– Esse lugar é lindo! – Dafne sussurrou observando agora o reflexo de Kaled.
– Sim, é realmente um lugar muito lindo. – a voz cavernosa dele não combinava em nada com o ambiente, mas ela tentou encaixá-la mentalmente ao lugar. – contudo até mesmo esse lago tem seus segredos. Dasdev não deve ser frequentada por quem não a conhece bem.
– E você a conhece bem, Kaled? – Dafne continuava a mirar o reflexo. O branco majestoso dele também cintilava no lugar. Ou o brilho estava sempre com ele?
– Conheço melhor do que qualquer um. – ele afirmou.
– Quantos anos tens, Kaled? – Dafne perguntou se virando para encará-lo.
Dafne se assustou ao perceber dor nos olhos dele. Dor, tristeza, confusão, Kaled estava sofrendo. Há quanto tempo será que ele sofre?
– Eu tenho muitos e poucos anos, Dafne. Mas não quero explicar nada sobre mim agora. – ele respondeu com calma e com a dor ainda forte em seus olhos.
– O que quer explicar? Algo sobre minha mãe, talvez? – Dafne perguntou esperançosa. Nunca viu nada de mais em sua mãe, mas nada mais era o mesmo desde que conheceu Kaled. Por que o velho mundo que conhecia também não deveria surpreendê-la? 

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